terça-feira, 9 de setembro de 2008

O meu chapéu de abas largas...

Na sombra desta mandioqueira dispensei o meu chapéu
No braço da cadeira e ali ficou, esperando por mim
Num lugar ermo, mas aconchegado bem pertinho do céu,
Que eu saísse, tal como o meu cavalo me aguardou assim.

Saímos, cavalgamos ao sol, enterrei o chapéu até aos olhos
Sua sombra no ar seco e quente entre as pestanas me refrescou
De olhos semicerrados da poeira agreste que vi como em sonhos
O que meu progenitor viveu, viveu por nós tudo o que passou

Era um chapéu de abas largas, único só como ele podia ser
Das gentes do mato, nas longínquas anharas era conhecido
"O homem do chapéu grande" epíteto adequado no seu saber

Serenamente em paz e tranquilidade ao que lhe era querido
Da vida dura mas fértil, aos anseios conquistados pode conter
Num chapéu como este de abas largas, da vida o mais apetecido.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Folhas caídas, Outonos, traços...de uma vida

O traço rasgado na folha que cai sem se suster
É o sulco profundo de uma face enrugada.
Outono da vida, com a paciência de um sábio reter
Uma história por cada rasgo da pele engelhada.

Contadas uma por uma, no tempo que é infinito
Serões e crepúsculo em tempo de as contar
Razões que a vida tece do amor tão bonito
Que nos leva bem longe mesmo sem asas para voar.

Qualquer topo de montanha escalamos
Basta querer, ter vontade ou imaginação
Qualquer lago ou rio a nado atravessamos

Difíceis as travessias a que nos leva o coração
Fáceis as promessas a que nos esquecemos
É o que acontece após o verão.

A folha caída...

Caí hoje...
Estava amarelecida e curvada
Um sopro de vento arrastou-me
Subitamente dou por vim voando sem rumo
Tento compreender porque me desprendi
Se estava fixa num pedúnculo
Segura a um ramo tão forte.
Agora vislumbro o chão tão perto
É a queda inevitável
Porém outro sopro de vento...
Me atira mais alto
E do alto vejo coisas novas.
Antes na árvore estava tapada
Tapada com as minhas outras irmãs
Todas juntas fazendo sombra a quem precisa
Mas agora vejo do alto
Gentes, ruas de cidades bonitas
Rios com água cristalina...
E vou caindo sem perceber
Que outra golfada de vento me atira
Para mais longe
O longe suficiente que no campo pousei
Tive sorte
Muita mesmo...
Porque um lavrador arava o seu campo
O meu destino estava no caminho do seu arado...
Seria retalhada e misturada na terra
Sorte ou azar!
Mas um pássaro viu-me e levou-me no seu bico
Passei a fazer parte do seu ninho
Era a peça que faltava para aconchegar
A nova geração.

Algumas folhas são perenes, outras são caducas...
Mas renovam-se na vida, a cada Primavera.