domingo, 27 de janeiro de 2008

Sabores do tempo

Sabores do tempo

Se o tempo dos sabores passados

Estivesse aqui e agora, no saber recente

Se o tempo das conversas nos muros

Dos risos e jogos, assim chegasse de repente.

Diria em voz alta, “retornei á minha terra”.

Se esse foi também o teu tempo vivido

Deves sentir o que sinto na longa espera

Junta a tua voz á minha e canta comigo

A Terra com cheiros do mato

Das lavras no tempo da chuva

O negro grão do café de mil aromas

Dos sons e luzes cintilantes

Na noite junto á fogueira

Aqui conversas e pensamentos se juntam

Bailando o baile do fogo

Emotivo, zangado ou atiçado

Que lentamente adormece

Na cinza do tempo

A cinza que se dissolve

No orvalho da manhã

Nas primeiras gotas de chuva

Fica a memória

Sem tempo marcado…

“És da mesma terra que eu”

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Duo Ouro Negro

De Negro e de Ouro·

Quando era menino imaginei um comboio lindo ao som de uma canção
De Kurikutela baptizei-o, e nele nos meus sonhos quem não viajou
Pelas chanas imensas resfolegava de apeadeiro em estação
De
poente a nascente gentes e coisas com leveza carregou


Fiz uma prece a Muxima para não mais ver o povo sofrer
Na minha cidade que é linda e debruçada sobre o mar
Nas imensas areias da tua ilha eu quero ver a vida correr
No seu batuque ao anoitecer, sentir das acácias o seu perfumar


Na noite que me envolve na baía ao longo da avenida tomo rumo
Só quero chegar de madrugada ao aconchego sem ninguém me ver chorar
Se a Maria Rita soubesse quantas lágrimas e sonhos se esvaíram em fumo
Na
dança do morro com muamba banana e cola sempre a farrar


A Iemanjá, eu roguei, pedi e me devotei a Elisa, ahuè Elisa ahuá
Como a minha terra é linda como a flor no Muxito
Como se pode fazer um acordo em acabar com a guerra
Canta irmão canta comigo, que vou levar-te comigo.


A Raul e Milo, que na minha memória se perpetuarão.

Sonhei...

No passado sonhei...
Sonhei muita coisa que não veio
Não sonhei que outras coisas...
Aconteceram
Não!Nem pude evitar
que caíssem
pela fenda abrupta e profunda
do egoismo do mundo
não fiz um esforço mais...
deixei-me ficar expectante
julguei que não era comigo,
são coisas...
coisas que acontecem aos outros
enquanto o vento sopra
enquanto a tempestade assola
avassaladora...
mas numa volta ela me toca
afinal também eu...
julgava que não.
Era só com os outros
afinal de diferentes
sou igual...
mas igual a mim próprio.
Peça única
Vou sonhar...de novo