sábado, 24 de maio de 2008

São flores

São flores, muitas de corola aberta

São de cores como o arco-íris, variadas

São as que eu gosto para uma oferta

São que brilham ao sol e são perfumadas


Petúnias, camélias e amores-perfeitos

Malmequer, flor do campo entre giestas

Papoila rubra junto dos esteios

Da eiras onde o trigo se criva nas peneiras


Pétalas amarelas, bem-me-quer por uma

Malmequer por outra, de amores enternece

Qual a flor que do sol se guia e apruma

Lírio alvo ao luar, uma lágrima na minha prece


Que fica misturada ao orvalho no frio amanhecer

Qual a gota entre muitas que será a da minha cor

Será seiva, sal quem sabe, não importa se crescer

Será linda e colorida, será como gente, mas será flor

Cerejas e palavras


Cerejas pois, serão no sabor da minha memória

Uso palavras para descrever aroma tão peculiar

Escrevo cada gota sorvida da sua nobre polpa

Exala-se, a cada trincadela no rubi do pomar

Se estas são palavras como serão as restantes

Manga, abacaxis, banana, tropicais de seu gene

Não tem hora, nem dia, diria que são conversas

Falas diversas em sintonia, falas de gentes…

Noites de luar com palavras de sentido cheias

Brisas nocturnas na areia grãos se levantam

Em formas de corpos esculpidos de roupagens nuas

Que ao romper do dia se desmoronam

São palavras, foram cerejas e ecos restam

São súplicas da alma, foram versos

São só estes que pouco mais comunicam

São mesmo palavras e cerejas, de improvisos!

A estrada onde me perdi...


Não era estrada já
Outrora fora bem alinhada
Agora resta um caminho
Ou vereda com valas abertas
Pela chuvas torrenciais da vida
Tornou-se dura e agreste
Seca, árida e poeirenta
Ao sol impiedoso
No tempo da chuva
Chão lamacento
E escorregadio
Perigosamente
Me embrenho
Numa picada sem fim
Sem limite nem norte
Sem azimute
Pelo escuro avanço
A paz procuro
O conforto desejo
A fome da alma é voraz
Não vejo a estrada
Chove copiosamente
A enxurrada empurra-me
Para o abismo.
Escorrego, caio
Levanto-me
Agarro-me ás raízes
São minhas, vislumbro
Reconheço-as
Travo o meu destino
A nuvem passa
A chuva pára
O sol volta a brilhar
Estou sujo e roto
Cheio de lama
Mas é por fora
Cá dentro sou eu
Limpo!