domingo, 26 de agosto de 2007

Negro


Sou negro por dentro, branco por fora
Tem hora que se sente quando é o tempo de…
Partir, procurar o sonho e viver
Tem dia que se sabe quando não vai chover
Por isso vou levar o meu gado á tchimpaca para beber
Tem hora de calor que faz parar o tempo
Tem dia que me chamam de branco teimoso
Mas tem hora que fico negro, perto do meu tchoto
Sentado perto olho para as estrelas do céu no crepúsculo
Vejo nele o meu Sul no Cruzeiro da via de Santiago
Fico a escutar na hora do uivo do lobo e o choro da hiena
Tento ver o noitibó e o mocho, mas só o seu piar vislumbro
Sei que a noite está para eles como África está para mim
No crepitar da fogueira os galhos secos ardem
Desenham manchas de vermelho e amarelo,
Quente como o sangue que me alimenta a vida
Dançantes e sinuosamente envolventes contra o escuro da noite
Meus olhos não se cansam de ver o seu bailado
Fogo consumidor de vida inerte e seca
Aquece-nos a alma para o conforto do espírito
Ser negro, ser branco não importa a cor
Importa sim o que se sente pelo que se ama
Ser capaz de olhar e sentir do mesmo modo
Como quem na minha terra nasceu.

Eu nasci na minha Terra, não interessa a minha cor. SAM
tchimpaca = peqena lagoa para reserva de água
tchoto = fogueira
noitibó = pequeno lémur noturno

1 comentário:

Anónimo disse...

Também sou africano por todo....como se viveu, o que se assimilou...usos e costumes...convívio...tudo o que ultrapassa a teorização de africaneidade.
Sérgio de novo uma palavra de incentivo e estima, pelo que dizes por nós usando teus dotes...
Abraço