O sonho do ser que teima em ser
O que não é, mas apenas porque o quer
No seu desejo arrasta-se, lento
No tempo que lhe sobra do tempo que não viveu
Agarra-se ás feridas, nas calçadas
E nos caminhos que palmilhou, olhando sedento
E ressequido para a miragem inglória, da má fortuna
Que lhe leva na vida a vontade de voltar
A ser o que era, passar do farrapo ao pano
Velhos são os trapos, diz-se por aí
Porém trapos foram panos de belos estampados
Debruados de rendas aplicadas, da vida que passou
Limpando tudo a troco de nada, fez o brilho efémero
De um cristal escurecido no passado
Cujas arestas vivas lhe rasgaram o ventre
Juntando cicatrizes de várias vidas que se cruzaram na sua
Brilhou o ouro e a prata, poliu e resplandeceu nas luzes
No teatro da vida e morte quis passar incólume.
O tempo, seu inimigo fatal não o poupou
Tornou-o esgaçado, roto e inútil
Atirado para um canto húmido e frio
O fétido tresanda na obscuridade vil
Vingança consumada num último esgar
Antes de ser despedaçado
Sujar-se com o que ninguém quer
Na lama fedorenta se liberta finalmente
Na sua alvura de linho puro.
SAM
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